11 de fevereiro de 2011

Um ser alto, magro e desengonçado tentava se por de pé diante de Aiko e Yuri. Zero estava pouco se lixando para quem fosse Yuri.
- Desculpem... Podem continuar... Finjam que eu nem estou aqui... - Zero ia em direção a cozinha sem a menos expressão.
- Quem é ele? - Yuri cochicha um pouco espantado.
- É...é... - Aiko simplesmente não sabia o que dizer.
- Seu namorado? - Yuri pergunta meio convencido de sua ideia.
- Não! - Zero pára e vira respondendo junto com Aiko em uma voz só.
- É meu primo. É isso, ele é meu primo... - Aiko murmura quase vermelha.
- Hnf... - Zero volta a caminhar para a cozinha.
- Então, você vai? - Yuri pergunta voltando ao assunto da festa, sem dar mais atenção a Zero.
- Vou sim. Quando?
- Hoje, venho te buscar às 20h. - Yuri pega o caderno de Aiko e vai em direção a porta.
- Mas... Hoje... O Zero pode ir? - Aiko pergunta voltando a raciocinar.
- Zero? - Yuri não sabia que o nome de Zero era Zero, então para Aiko essa foi uma pergunta aceitável.
- Meu primo... - Ela murmurava como se agora ela percebesse que Zero podia ser um peso em certas horas.
- Pode, acho que não tem problema. - Yuri na verdade não queria que Zero fosse, e Aiko percebeu na expressão de Yuri. Mas o que ela podia fazer.
Aiko abriu a porta e mal Yuri saiu a fechou, escorregando até chegar ao chão.
- Onde vamos? - Zero perguntava com um biscoito enfiado na boca.
- Agora? Vamos comprar roupa! - Aiko respondeu e correu pra pegar o cartão de crédito da irmã.
Zero nunca precisara disso, materialização era uma diversão para ele.
- Aiko, eu faço isso sozinho! - Dizia Zero andando até o centro da sala, parando ao lado da mesinha.
- E voltar pior? - Aiko ri.
- Voltar de onde Aiko? - Zero aparentemente não faz movimento algum, mas Aiko pode perceber, no sofá, criando forma algo abstrato. - Acho que vai ficar legal em você... - Cai no sofá um vestido preto com detalhes purpúreos.
- Nossa... Eu também acho... - Aiko se aproxima do vestido com os olhos arregalados.
- E para mim... - Ao lado do vestido surge algo que podemos chamar de roupa casual para festa...
- Nossa... - Aiko arregala mais ainda os olhos quando vê a roupa de Zero. - E eu que duvidei do senso de estilo do Zero... - Ela estava tão encantada que acabou esquecendo de se espantar.
- Bom, agora precisamos de um carro...
- Mas Yuri vai vir buscar...
- Não... Eu quis dizer que EU preciso de um carro...
- Mas... Como... Você... Vai...
-Pára!!

O dia seguinte era sábado, e pra um fim de semana, Aiko não esperava a metade do que seria.

- Aiko, precisamos conversar... - Emi quase nunca acordava cedo aos sábados, Aiko gostava de ver o amanhecer.
- Você acordada essa hora? - Se fosse Zero, Aiko não se espantaria, afinal, ele era bem louquinho, mas ver Emi aquela hora de pé era suspeito.
- Estou de viagem... E preciso confiar em você, posso? - Emi ainda nem se quer estava pronta, mas às 8h da manhã ela sairia num vôo para os EUA, a trabalho. Aiko não entendera nada, mas fizera que sim, ela sempre teve a confiança de sua irmã. - Vou ficar o semestre inteiro fora, então por favor... - Emi estava séria até aí - Nada de sacanagem na minha cama! - Mas logo abre um sorriso lago de onde vem uma gargalhada.
- Sua palhaça! - Aiko dá um soco no ombro de Emi que revida, e elas começam a brincar na varanda. Zero já estava acordado, e ver aquela cena, desertou pela primeira vez um sentimento em si, a saudade.
- Ei Zero, você também? - Aiko o viu sentado numa cadeira na varanda as observando pouco antes de levar um empurrão e cair no chão aos risos.
- Que engraçado... - Zero ria, mas não do tombo, e sim do que estava sentindo.
- Eu vou mandar dinheiro pra vocês... - Emi dizia ao se levantar ainda tonta.
- Hã? - Zero não havia pego essa parte da conversa.
- Toma conta da mocinha viu! - Emi foi direto pro quarto.
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A cena era cômica. Zero entediado de um lado, e Aiko dormindo do outro. O dia estava tão calmo e comum que não se podia acreditar.

- Hm? - O tédio de Zero foi interrompido pelo som da campainha. - Aiko... - E como se não estivesse contente com a interrupção, ele interrompe o sono de Aiko para não ficar sozinho.
- Hm? - E ela também não ficou muito feliz com a interrupção.
- A campainha!
- E você não podia atender? - Ela pergunta meio irritada.
- Ta bem... - Zero se levanta e vai em direção a porta.
- N-não! Calma aí! - Mas antes que Zero abra a porta Aiko o passa a frente. - Yuri? - Ela pergunta surpresa e um pouco sonolenta.
- Quem é? - Era possível ouvir a voz de Zero vindo lá de dentro.
- Oi, o que foi? - Aiko tinha toda a paciência do mundo ao ver Yuri, afinal, era ele seu amor eterno e não correspondido eternamente também.
- É que eu vim te perguntar se pode me emprestar a matéria de ontem... Eu não consegui pegar ela toda... - Yuri coçava a cabeça quase vermelho.
- Ei Aiko! Quem é...? - A voz de Zero saía mais como a de um gato miando.
- Ta acompanhada? - Yuri pergunta tentando ver dentro da casa, estranhando o acontecimento.
- Não... Por que? - Agora quem estava vermelha era Aiko.
- Eu ouvi... Ah, deixa pra lá. Pode me emprestar?
- Sim. Aguarde só um minutinho. - Aiko sem cerimônia fecha a porta, e corre pra falar com Zero.
- Você vai já lá pra cima! E ai de você se disser um piu! - Ela empurrava Zero até a escada.
- Ah, quer entrar? - Ela voltou para convidar Yuri, uma vez que tudo estava bem.
- hm? ah, tah... - Yuri entra e se senta no sofá.
- Não vou demorar. - Aiko corre até seu quarto e pega a mochila, voltando correndo pra sala.
- Sabe Aiko... Eu estava pensando se... Não quer ir na festa da Yumi comigo...
- Festa da Yumi com você? - Aiko estava tão feliz que mal pôde ver Zero rolando pela escada abaixo.
- Hm?

Aiko ainda não podia acreditar que tinha um acordo com um imortal.
Zero ainda não acreditava que uma humana comum salvara sua vida, sem ao menos o conhecer.
E Emi simplesmente não acreditava em nada.
- Ok, então quer dizer que você vai me acompanhar até ocorrer algo que te dê a chance de salvar minha vida para ficarmos quites? - Aiko perguntava ainda descrente.
- É. - E Zero responde normalmente, como se fosse algo que dissesse todos os dias.
- Calma ae! Antes de mais nada... O que foi isso? - Emi perguntava apertando os olhos como se fizesse a pergunta só por fazer.
- Lembra das histórias de mamãe? - Aiko pergunta já dando a resposta. - Lhes apresento: Zero!
- Reunião! - Diz Emi pouco antes de puxar Aiko até a cozinha deixando Zero confuso na sala.
- Que foi agora? - Aiko pergunta como se já soubesse tudo que seria dito.
- É sério isso? Tipo, não é todo dia que descobrimos que lendas, como Zero, são reais... - Emi aperta os olhos tentando detectar qualquer fio de mentira. Mas mesmo Aiko sabendo o que Emi pensava, ela apenas fazia que sim com a cabeça.
- Sabe que não me responsabilizo por isso, certo? - Emi cruza os braços esperando pela desistência de sua irmã.
- Huhum! - Mas Aiko apenas continua sacudindo a cabeça.
- Tem mesmo certeza de quem é ele, não tem?
- Sim... Não sei porque, mas... Pude ver no olhar dele... - A face de Aiko agora mudara. Ela estava totalmente diferente de minutos atrás.
- Então, vá em frente... Só não se arrependa! - Emi vai em direção a sala vendo Zero na porta da cozinha a observa-las desde de sabe-se lá quando. - Isso é uma ordem expressa! - Emi dá um risinho e pára de frente para a escada. - Zero, espero que não resmungue muito... Você vai pra escola com Aiko. Começando Segunda-feira...
- Hmm... Escola? - Zero deita a cabeça e se põe a pensar...

- Ora, ora, ora... - Zero podia ouvir aquele ruído à quilômetros de distância, mas bastaram segundos e ele já estava ali em sua frente, bem diante de seus olhos.
As lembranças que voltavam a mente de Zero agora eram claras. Lembrava-se do dia em que Liy matou Mieko, diante de seus olhos, e jurou matar o próprio Zero.
Os olhos de Liy mantinham o ódio, o violeta de seus olhos não mudara nada.
Zero balançava a cabeça como se quisesse se livrar de todas aquelas lembranças, Aiko não sabia ao certo o que aconteceria, mas sabia que não podia ficar ali, e a confirmação disso veio no olhar de Zero.
- Zero, Zero... O filho mais velho, mais teimoso e mais sentimental vale acrescentar! - Liy ria com seu jeito estranho e não demorou a pegar sua espada - Eu prometi e aqui estou!
- Espero que tenha treinado bastante ao longo destes anos... Nii-chan! - Zero como num piscar de olhos trazia existência a uma espada prata e fina.
- Pode crer, eu treinei! - De onde Aiko estava era possível ver a investida de Liy contra Zero, e também o jeito gracioso como Zero o evitara.
- É, estou vendo... Depois eu sou o mais sentimental... - Agora era Zero quem investia contra Liy. Seria o golpe final, mas com a rapidez de Liy, Zero conseguiu apenas cortar o cabelo de seu irmão.
- Tudo bem, meu cabelo sempre foi melhor que o seu, mas precisava disso? - Liy segurava furiosamente a mexa de seu cabelo louro. Zero não podia esperar outra oportunidade como essa, mas ao perceber a aproximação de Zero, Liy também avança. O resultado era chocante, Zero fora perfurado no abdome e Liy bem no coração.
- Mieko manda lembranças... - Zero ajoelhado no chão tossia sangue sobre o corpo de Liy, com lágrimas nos olhos e um leve sorriso insano no rosto.
Aiko estava aterrorizada, mas não paralisada, e ao ver Zero desmaiar não teve dúvidas.
A pequena jovem de pijama não sabia o que fazer. Sua amiga estava encharcada de água e sangue, e o rapaz arrastado por ela, não estava muito diferente, mas o sangue saía dele.
- Precisamos ajudá-lo Emi! - Aiko estava notavelmente desesperada, e até mesmo para Emi, irmã mais velha de Aiko, era estranho ver a jovem tão fria ficar tão nervosa como estava. A voz de Aiko estava cheia de dor, como se estivesse perdendo um parente, ou um amigo de infância, porém seus olhos se mantinham secos de lágrimas.
- Deixe-me ver... - Emi deitava o rapaz no chão e terminava de rasgar sua camisa para ver os ferimentos.
- Então? - Aiko perguntava impaciente, mas bastou Emi sacudir a cabeça negativamente que Aiko já sabia o que devia fazer.
- Pelas histórias... - Aiko pegou a espada de Zero e cortou seu pulso. - Ele só precisa...
- O que está fazendo? - Emi Perguntava espantada com a atitude de sua irmã. E ela ainda tentava entender a parte de "pelas histórias...".
Três gotas bastavam. Em menos de um minuto, Zero voltava a respirar. Seu ferimento começava a cicatrizar.
- Por que... Fez isso? - Zero perguntava já mais recuperado - Se me deixasse morrer... Agora eu serei imortal... Definitivamente... - Era difícil saber se Zero estava contente ou triste. Mas era possível dizer que ele não queria dever nada.
- Não gosto de agradecer apenas com um obrigado... Agora tenho um trato com você. Tenho que salvar sua vida, quando isso acontecer, eu serei livre para ir onde eu quiser. - Zero senta e respira fundo - Me... - Zero sussurra pegando o braço de Aiko. - Deixe dar um jeito nisso... - Como em um piscar de olhos, o ferimento no pulso de Aiko não existia mais, e tudo que Zero precisou fazer foi pressionar um pouco...
Emi não entendia nada, apenas observava e tentava achar uma resposta científicamente correta para tudo aquilo...

Um encontro

Aiko já conhecia toda a região, afinal, passava todos os dias ali, indo ou voltando da escola. Mas naquela tarde chuvosa ela foi quase obrigada a perceber alguém diferente.
O cheiro era de flores silvestres, e o som da chuva caindo era como um sino que badalava. Aiko abriu os olhos e percorreu a rua inteira procurando a pessoa que transmitia tanta diferença naquele lugar, mas ainda estava um pouco longe. Aiko voltava a fechar os olhos na tentativa de ouvir, cheirar e sentir melhor. Mas com os olhos fechados acabaria esbarrando em quem procurava há tão pouco tempo e já não queria mais ver.
Os livros espalhados pelo chão, o cabelo pingando e os olhos arregalados, era a situação de Aiko.
- Desculpe - O rapaz de cabelo longo e olhar selvagem passava sem olhar atrás.
- Poderia pelo menos me ajudar a pegar os livros antes que fiquem encharcados? - Aiko perguntou na tentativa de olhar mais uma vez nos olhos frios e distante, hipnotizadores disse um tempo depois, do rapaz.
- Não. - Ele respirou fundo, parou de andar e esticou os braços pra cima - Já conheço essa história... E não faz muito meu gênero. - Ele virava devagar - E tecnicamente, você esbarrou em mim... Nem desculpas eu lhe devia. - E ele novamente virava e voltava a andar.
- Ei! Espera! - Após pegar os livros do chão Aiko começou a correr atrás daquele rapaz.
- Hm... - O rapaz parecia não gostar de companhias. Ele revirava os olhos a cada instante.
- Você não é daqui, é? - Aiko perguntava quase caindo ao chão.
- Eu podia até repetir a frase de sempre... A frase que definiu minha família, mas vou apenas dizer que não. - É, o rapaz realmente não gostava, ou simplesmente não queria, companhias.
- A frase que marcou sua família? - Aiko não entendera muito bem, mas ela queria ter entendido.
- Sim. - O rapaz friamente olha para Aiko revelando sua fina pupila preta e seus olhos âmbares e selvagens. Aiko lembrara ao olhar nos olhos do rapaz de uma antiga história, que passava de mãe pra filha.
- Zero? -
O sussurro foi quase inaudível, mas ele ouviu.
- Já ouviu falar de mim é? - Ele não parecia surpreso.
- Sim, mas... Você deveria ser...
- Só uma lenda? - Zero a olhava com um olhar tão selvagem que ela mal conseguia encará-lo.
- É... - Ela murmurou entre dentes, desejando não ser ouvida.
- Tudo bem, eu serei. Me esqueça! Eu não existo! - Zero virou e começou a caminha para o lado contrário.
- Não! Espere! - E novamente Aiko corria atrás dele. Ela estava curiosa, queria saber sobre tudo, sobre Zero, sobre tudo mesmo.
- O que você quer? Ter uma história pra contar a sua filha? Sobre um cara maluco e imortal que você conheceu quando ainda era jovem? - Zero agora parecia um pouco descontrolado, mas era apenas um efeito do tempo.
- Você é imortal? - Aiko pergunta bem baixinho, como se nem tivesse feito uma pergunta, e sim uma afirmação.
- Não. Eu morro, se eu tiver a sorte de encontrar meu irmão mais novo. E se eu tiver a sorte de ele ter ficado bom com espadas... - Zero respirou fundo, como se lembrasse de algo distante, algo tão distante que mal vinha a mente direito.
- Mas... Seu irmão mais novo...? - Era possível ver uma interrogação bem grande em cima da cabeça de Aiko.
- Eu só posso ser morto pela espada de um de meus irmãos, uma já se foi, só tem o mais novo, então ao encontrá-lo, ou eu mato, ou eu morro... - Para Zero a escolha era difícil, ele queria matar Liy, mas ele sabia que se matasse seria definitivamente imortal.
- Que irônico... - Aiko dá um sorriso quase invisível. Agora Aiko e Zero caminhavam lado a lado em silêncio.
Fosse qual fosse a escolha de Zero ele teria que fazer logo, afinal, seu destino o esperava a poucos metros...

6 de fevereiro de 2011

Decifra-me (first fic)

Zero era um menino feliz, mas ele era feliz, quando o tempo não lhe afetava, quando o tempo ainda não fazia diferença, quando o tempo ainda, de certa forma, não existia...
- Eu já disse que Ryui é meu! - Uma garota loura gritava estressada em frente a uma enorme escola, mas seu alvo não parecia estar sendo atingido. A menina morena se mantinha fria, calma, e inexpressiva.
- Ok. Eu não o quero. Nunca o quis, o que a faz pensar que vou querer alguém como ele. - A morena murmurava entre dentes, suas emoções eram duvidosas, se é que existiam.
- É bom saber... Esse é o ultimo aviso que lhe dou. - E a loura após uma incrível jogada de cabelo se vira e começa a caminhar.
- Yumi! - Uma voz gritava a loura.
- Hm? - Que se virou graciosamente.
- Também lhe deixo de presente: Eiji, Kenzo, Kaichi e todos os outros que quiser... É como uma promoção: "Leve tudo o que puder carregar!"

Yumi podia ser considerada uma pessoa detestável no ponto de vista de Aiko, mas também em todos os outros.
Aiko podia ser o mais fria o possível, mas o significado de seu nome a seguia em todos os lugares.
"Criança amável!" Era o que todos diziam ao conhecê-la. Menos ele. Todos podiam ter aparecido em sua vida, menos ele. Ele era o resumo de tudo.

Naquela mesma tarde, Zero passava pela ultima cidade do mundo que lhe faltava a visita. Ele não sabia quanto tempo passaria ali, mas também não se importava com isso.
Assim que as gotas frias começaram a cair, Aiko diminuíra a velocidade dos passos. Algo que Aiko amava e admirava mais que a si mesma era a chuva.. Ela pensava como algo podia ser tão puro, belo e refrescante. Já Zero, aumentava a rapidez dos passos a cada instante. A chuva não o trazia boas lembranças.

Aiko era feliz, Zero estava louco; Aiko era fria como o gelo, Zero era quente como o fogo; Aiko era bela como uma rosa vermelha entre as brancas, Zero era belo como um gato selvagem em meio aos domésticos...
Eles não se conheciam, sequer eram do mesmo mundo, mas isso estava pra mudar...